sexta-feira, 30 de setembro de 2011

A volta à turquia em menos de 8 dias


Agora sim, estamos em Istambul, depois de algumas horas de viagem com a expectativa de chegar a uma cidade cheia de cúpulas, cheiros e mistérios. Mistério foi mesmo o de descobrir o caminho para lá e depois onde é que tinham enfiado o papel higiénico e a roupa de cama no apartamento. Cheiros diferentes eram os que saiam das botas de cada um. A casa estava por terminar, ainda que já tivesse televisão e chinelos à porta, mas apenas com um canal de música turca. Claro que o aparelho rapidamente foi desligado e substituído na tomada pelo frigorífico e pelos carregamentos de laptops, ipods, telemóveis e afins, até que também eu perdi a bateria.

Os turcos parecem os gregos. Ou os gregos os turcos. Nas azeitonas, no iogurte, nas avenidas, na casmurrice de não facilitar a passagem. As avenidas grandes cruzam-se com viadutos labirínticos, e por duas vezes seguidas o hotel sai do ponto onde devia estar mapa.

Reza uma das muitas lendas que o café teve origem na Turquia, mas eu acho que eles são mais os reis do reclame, da carteira e do relógio pirata. Anunciam que vão anunciar, cada produto que têm em cada cartaz diferente. Estou convencida que anunciam que têm gato, rato, mulher e sogra, quantas vezes ajoelham para rezar e o que é que vão comer ao pequeno-almoço. No meio de tanta placa e cartaz, esquecem-se só de dizer para onde é o caminho. Nada que 2 gps e 3 mapas não ajudem a baralhar. Daí que cada vez que se quer entrar ou sair das cidades são círculos e círculos que se fazem à procura das placas certas.

Pode  ainda dizer-se que os turcos estão ao meio. Meio na Europa e meio na Ásia, porta do islão para o ocidente católico, meio para o ortodoxo, meia lira turca, euro inteiro. Não sei, mas ao meio da estrada vão de certeza. Não são de facto tão maus como os taxistas gregos ou tunisinos,  mas são muitas as vezes na estrada que os vejo bem de frente, em contra mão, sem qualquer tipo de preocupação. E devem ter três mãos. Porque numa levam o cigarro, na outra o telemóvel e não sei qual é que sobra para agarrar o volante.
Pisca não existe, facilitar a passagem muito menos. O que me deixa mais triste é não me ligarem nenhuma. Impávidos e serenos, não dizem adeus, não param, não acenam. São indiferentes, estes turcos.  Demasiado equilibrados. Demasiado lavadinhos e arrumadinhos. 

Istambul é grande e não me cheira a nada a não ser à maçaroca que trinquei e às romãs espremidas dentro dum copo que custou o dobro do preço.  No bazar, finalmente um turco tenta impingir-me  umas especiarias e uns doces, e assim sim, já sou turista. Mais umas voltas dadas, incluindo a Haya Sofia, uma das 7 maravilhas do mundo, e eu gostei foi dos murais pintados com as lendas da Turquia, num beco à saída do antigo hipódromo, do qual o pouco que resta, não vimos. Um das lendas fala sobre Hezarfen, um rapaz que em 1600 e qq coisa teve a audácia de se atirar de uma das torres mais altas, para tentar voar com umas asas improvisadas. A lenda não conta o que lhe aconteceu a seguir, mas aposto que foi apanhado de frente por um camionista.

Aliás, nesta terra existe mais camião e camionista do que mesquitas e minaretes juntos. Mas os camionistas são simpáticos e um pouco mais conversadores. É com facilidade que com duas ou três palavras em pseudo turco, lhes arrancamos um sorriso e algumas histórias. Sentei-me  com três, bebi café e conversei durante uns 20 minutos, já a caminho de Ankara. Não percebi ponta de nada do que me disseram e ainda menos do que eu disse, mas o que importa é que fiz amigos.

domingo, 25 de setembro de 2011

Pevides e obrigados

Tracia II Bulgaria
Directos a Istambul que se faz tarde e ainda tem que se atravessar a Bulgária. Paragem antes da fronteira para compras essenciais de última hora – ao lado dos patchuli de baunilha encontrei dois vernizes e uns óculos escuros. Seguimos em direcção a Pyce que em Búlgaro se lê Russe. Verde. A Bulgária é verde. A Bulgária é verde já com umas cores de Outono. Os mapas na Bulgária são em Búlgaro e aqui nem obrigado consigo pronunciar. Pago em euros. Sófia fica para o regresso. Atravessamos ponta a ponta e de uma ponta à outra, perco a conta aos pneus rebentados na beira da estrada.
Cruzamo-nos com um porco, com uma carroça em excesso de velocidade à conta das chibatadas no cavalo, uns burros, mais cavalos, uns rios. Bebemos uma mistela de nescafé com água aquecida no micro-ondas. Faço mais uma amiga da senhora da mercearia, que tenta sem resultado nenhum, ensinar-me obrigado em búlgaro.
Tracia III Turquia
Fronteira, saímos, passamos e entramos. Assim que ponho o pé em solo turco, tropeço. A seguir deixo cair os óculos. A seguir sou comida pelos mosquitos e mordida pelo mosquetão das malas da mota. Deixo cair pevides. Quase que me caem as lágrimas com as malaguetas picantes do jantar. Cai a extensão do intercomunicador da mota. Os turcos são simpáticos e correm depressa. Cai a noite e ainda faltam 250 quilómetros para o destino.
Assim que entramos na auto estrada, totalmente escura, as luzes da mota apagam-se, foi só um susto pequeno, parámos apenas por um momento curto e conseguimos retomar caminho. Depois de mais outra paragem, é a vez do intercomunicador falhar.
Na portagem, o turco brinca e pede 30. Afinal são 20 e ainda diz que me ama, em turco e em inglês. Treino mais uma vez os agradecimentos. As companhias da viagem a esta hora já estão fartas de me ouvir a dizer obrigado em todas as línguas e a toda a gente por onde passamos. Aposto que fartas disso, e de me ver a comer pevides.
Vou a olhar para as estrelas e a pensar que já se estão a alinhar para termos uma estadia perfeita e de facto assim continuou. O telemóvel com o gps e ponto do hotel ficou sem bateria, momentos antes de não se saber do papel com a morada. Por aproximação chegamos a um hotel que não é mas encontramos o papel. Peço a um turco que me diga onde fica e o turco bem simpático, não só convida e paga o chá, como liga para o hotel e ainda nos leva lá.
O hotel é afinal um condomínio de apartamentos na periferia de Istambul.  E afinal só estava preparado para 2 pessoas e não 4.

Estas viagens de mota dao cabo dos pés

Tracia I - Bucareste
O dia começou certo. Começou e parecia que nunca mais acabava. Depois do voo Lisboa – Milão esperavam-nos 6 horas de escala nocturna em Malpensa. Mal pensava eu que seriam 6 horas a rebolar no chão do aeroporto, ao som do alarme de incêndio, versão italiana, mesmo quando anunciavam em inglês.  Pela manhã, assim que o avião Milão – Bucareste levantou voo, aterrei eu, no mais profundo sono, a vingar o frio e o desconforto das horas passadas. 
Ainda consegui ler duas páginas da revista aérea e ter tempo para saber que segundo a easyjet, um dos melhores restaurantes de Lisboa, que vale mesmo a pena ir, é um alemão… consola-me ainda na mesma página saber que Lisboa parece ser a segunda cidade europeia mais antiga, a seguir a Atenas.  Se a ordem então está correcta, se a seguir ao gregos somos nós, a seguir… já não consegui ir à net procurar quem são os próximos a falir.
Bucareste. Vista de cima não faço ideia de como é pois vinha a dormir. Vista de baixo, ainda que o nome venha de alegria, as pessoas não o demonstram.  A cidade é  bonita. Muito edifício bonito e lavadinho. As romenas também o são. Os romenos nem por isso.
Outra conclusão que se pode tirar é que estas viagens de mota dão-nos cabo dos pés. Contabilizadas até ao momento 3 bolhas 2 na planta, 1 num dedo, mas tudo em pé alheio e tudo em quilómetro e meio,  do autocarro até hotel, debaixo de muito sol e (muita) bagagem. Finalmente o hotel. Tem a reserva. Sim. Tem elevador. Não. Os quartos são em baixo. Não. Temos que subir. Até ao 4 andar.
Tentamos encontrar o palácio absurdo de Ceausescu. Absurdo de grande, enorme, gigante, fechado. Passa da hora e amanhã também não abre. Culpa do táxi que só conseguimos mandar parar 2 horas  e 2 quilómetros arrastados a pé depois. Entretanto treino o meu romeno com quem vou encontrando, ao mesmo tempo que os tento evangelizar no português. Sempre arranco uns sorrisos e até agora ninguém se ofendeu.
É suposto Bucareste ser a Paris de Leste. Se for, encontrei uma festa da cerveja e da salsicha em plenos Champs Elysées! Não há torre Eiffel nem baguetes debaixo do braço, mas é uma cidade que tem vida e onde se vive. À passagem olha-se para os emaranhados junto a todos os postes. São ninhos? Não. São novelos desgovernados de cabos eléctricos que atravessam as ruas e a paisagem.
Amizade com família cigana que tenta atravessar a estrada com 6 vias e 2 separadores centrais com um carro de supermercado cheio de barras de metal pesado, desmanteladas de um qualquer objecto. Falamos espanhol. Esteve lá 3 meses e a menina já sabe falar. Pergunta-me quanto custa o aparelho dos dentes. Caro. Despedimo-nos. O cigano já ficou com o chinelo debaixo do carro.
As motas por fim chegam. A logística do costume é feita de noite. O cansaço sobe até ao quarto andar e dorme.

terça-feira, 20 de setembro de 2011

A Trácia

A Trácia é uma região histórica do sudeste da Europa. É banhada, a leste, pelo Mar Negro e pelo estreito de Bósforo; a sudeste, pelo Mar de Mármara; e a sul, pelo estreito de Dardanelos e pelo Mar Egeu. Para visitar esta bela região, os turistas devem viajar aos pares e apanhar um avião à saída de Lisboa com destino a Bucareste, de preferência numa quinta-feira próxima. À chegada à Roménia contactam o aluguer das motas e rezam para que este ainda não tenha fugido com o dinheiro.

Depois de se deixarem encantar alegremente pela famosa Paris de Leste e o seu Arco do Triunfo, os viajantes devem agora seguir caminho directo a Istambul, pois os dias não são muitos e se querem dar a volta toda é melhor começarem bem cedo a procurar atalhos no mapa. Põem Sófia de molho até ao regresso e se tudo correr como previsto (sendo que a especialidade da casa definitivamente não é esta!), ao fim do 3º dia, a imponente outrora Constantinopla os esperará no fim da estrada.

Os turistas devem ainda aproveitar cada oportunidade para ir a banhos e molhar os pézinhos para quando regressarem poderem dizer a toda a gente que de uma só vez lavaram-se no mar egeu, no mar negro, no mar de mármara. Quando chegarem ao mediterrâneo, dizer adeus ao Colosso de Rodes já não dará, até porque o senhor já foi transformado em sucata, mas podem sempre esplanar por ali e ficar a imaginar os 900 camelos que o retiraram do fundo do mar.

Acabada a volta pela Anatólia, que corresponde hoje à parte asiática da Turquia, em oposição à parte europeia, a Trácia, e já com o brilho do sol por detrás, tentarão encontrar o caminho de volta. Talvez Macedónia. Talvez Grécia. Bulgaria sim. De certeza (ahahahaha) aeroporto de Bucareste novamente, com breve paragem em Milão para o freeshop. Çok güzel!!!