quarta-feira, 20 de dezembro de 2006

Pocinho Bay 19.12.06 6h58 a.m. -2º Exterior +24º Interior

Hoje decidi começar a escrever bem cedo. Não dei de caras com nenhuma musa (muso?) inspiradora nem despertei com uma vontade indomável de dar asas à caneta. O que se passa é que caí da cama à hora que me costumo deitar, já apanhei 3 transportes públicos e esperam-me -2 graus no destino.

Manhãs Olímpicas

De facto, gastar dinheiro na inscrição de um ginásio quando tenho manhãs tão desportivas? Ora vejamos:

4h15 - 1ª Sessão de Luta com o despertador 1
4h20 - 1ª Sessão de Luta com o despertador 2
4h25 - 2ª Sessão de Luta com o despertador 1
4h30 - 16ª tentativa de Levantamento de Peso próprio
4h35 - Salto em altura para fora da cama
4h45 - 50m barreiras para amblíopes até ao W.C.

4h45/55 - Mergulho em Apneia em água a ferver. Começar a pensar em fechar a torneira

5h05 - Desporto Aventura: conseguir vestir 3 camisolas, casaco, cachecol e sim, confesso, collants!!

5h15 - Automobilismo e Xadrez

5h30 - Início do percurso de (Des)Orientação entre Paço d'Arcos e Stª Apolónia, com direcção a Foz Côa, com apenas uma (esperemos!) paragem intermédia no Porto - Campanhã.

Catarina Rebelo Pinto

Antes que seja acusada de auto-plágio, existem de facto temas recorrentes nestas viagens, que pelo incómodo que provocam continuam a justificar a sua presença. Ultimamente tenho tido algumas reservas com os revisores da CP, momentos já assumidos publicamente na Carruagem 23 - Expresso da Pampilhosa. Hoje tive já mais uma evidência de que estas reservas estão para durar e podem evoluir para situações traumáticas. Esclareço: traumáticas para eles.

Não é que este, e faço questão de identificar - Comboio Cascais-Lisboa, paragem às 5h51 em P'Arcos - cada e todas as vezes que as portas abriam mostrava-nos o mais intímo de si, com sonoras cuspidelas ou mais para ser mais precisa no som, cuspicarras. Pelo sincronismo do acto diria que, sem dúvida, trata-se de uma esperança olímpica que evidencia já longos e árduos períodos de treino. Pode-se mesmo dizer que a precisão e o alcance do lançamento é mais para o tiro ao alvo.

Apesar do sono e da indignação estampadas na cara tive que ser mais expressiva e abrir os olhos até quase os revirar. Resultou. Fez uma cara esquisita, não me pediu o bilhete e mudou de carruagem.

Pensei eu: ganhou vergonha na cara.
Errei eu: foi praticar para a carruagem seguinte!! Não pude evitar pensar no Baltazar e no Melchior sentados na estação de Belém...

Xôôôôôôôôôôôôôôôô!

Vou remar com as pinturas rupestres. Não serão gravuras, nem rupestres, nem eu tenho qualquer intenção de me meter dentro de água, nem me devem querer no mesmo barco. Se a minha fama já chegou ao Centro de Estágios do Pocinho já devem ter criado um perímetro de segurança. Era bom que para além de Pernas Inquietas sofresse também de Dedos de Rei Midas, mas o caso é mais: onde toco, estrago. Lista de reparações do último mês:

2 computadores, 1 carro, 1 farol médio, 2 máquinas de café, 1 telefone, 1 auricular, 1 fax, 1 fotocopiadora, 1 portão e 2 Cds

Como diz o meu editor, eu não estrago nada. Estou só a ajudar as coisas que estão em mau estado a serem reparadas mais depressa... Um optimista, não é?

Após uma hora o comboio ainda segue viagem, sem demora ou avaria aparente. Devo estar a perder qualidades. Não se vê a ponta de um revisor lá fora, o termómetro aponta um frio de rachar, mas valha-nos saber que se olharmos bem pela janela conseguimos abstrairmo-nos do cheiro que vem do vagão-restaurante e admirar as paisagens do Portugal sujo, degradado e às vezes profundo. Pois é. Fica para outra vez. Vou dormir. Profundamente.

Acordei a 3 minutos de Campanhã, com as lentes coladas aos olhos e uma dor de costas colada ao vidro, fruto da ginástica acrobática que me vi obrigada a fazer para encontrar uma posição silenciosa.

Estalactite Humana

Depois de passar todo o dia sentada a assistir aos treinos e testes do grupo de apuramento, a vê-los suar, gritar e remar, estou cansada. E congelada. Coisas interessantes a acontecer: nada mesmo. Volto quando tiver assunto. Até lá deixo dois episódios memoráveis e ainda não divulgados:

1. Agosto 2006 Campeonato do Mundo de Remo, Londres, o tal que não tive tempo de escrever. Graças à insistência em sacar uma foto à residência do Sr. Blair, quase que 2 portugueses e meio ganhavam uma noite nos calabouços da rainha. Ainda tentámos que os dois simpáticos e nada nervosos elementos da polícia do corpo diplomático e respectivos reforços armados nos levassem a jantar depois de termos sido identificados como envolvidos em actividades suspeitas de terrorismo. Tenho a certeza que se tivéssemos tido tal escolta, o porteiro do Tuga não teria tido tanta facilidade em expulsar-nos do restaurante, mais tarde nessa mesma noite. Ah! E o meio português não sou eu. É um amigo meio português, meio inglês!

2. Dezembro 2006 Conversa irreal, surreal, sobrenatural, à porta da Federação, com a pedincha de serviço. A troco do "dá-me 1 cigarrinho" do costume resolveu desejar-me as boa festas com uma descrição pormenorizada da infecção urinária que teve e que, segundo a própria e para que não hajam dúvidas, passo a transcrever: "Juro-te, amiga...Cheirava a podre. Logo eu que se for preciso lavo a pachachinha 3 ou 4 vezes por dia".

Mais pormenores são perfeitamente dispensáveis e têm muito mais piada contados ao vivo, imitando a voz fanhosa, os dentes a dispersarem pela boca e o gesticular que ainda resta de uma vida muito mais podre.

O meu dom voltou. Acabei de estragar a minha pen drive e o rato do director técnico nacional.