terça-feira, 21 de novembro de 2006

La Consagrada Família – Parte Não Quero Ir Para a Suíça!!

Museus, catedrais, feiras, jardins, praias, parques, teatros. Restaurantes, cafés, concertos, óperas. Partam da Praça de Catalunya e percorram La Rambla ! Vão ficar deslumbrados e com a quantidade de indianos que se dedicam ao comércio, porta sim, porta sim. Depois, sigam pela Joan de Borbó, escolham o vosso caminho à esquerda. Qualquer um deles vos vai conduzir à areia e ao mar.

A fervilhar de actividade noite e dia, La Rambla é um paraíso para os olhos com estátuas humanas, músicos, caricaturistas, bancas, pequenos mercados com ramos de flores e periquitos barulhentos. Vende-se tudo. Desde jornais a vídeos pornográficos.

Nunca menosprezem o poder da vossa imaginação. Para todos os que neste momento estão um pouco perdidos ou a ter um sentimento de dejá vu, confirmo. Os dois parágrafos anteriores saíram agora mesmo da mais recente edição do Guia American Express – Top 10 Barcelona, o meu melhor amigo por estes dias. Os meus pezinhos ainda não deixaram Sant Cugat. Aqui continuo enfiada, eu e mais 21 sul-americanos desesperados com o frio que faz lá fora e com o calor que nos entorpece cá dentro.

Mais um para o caso clínico

Parece que sofro de mais um síndroma, a juntar ao das Pernas Inquietas e muitos outros ainda não descobertos. Síndroma do Aeroporto. Londres, Paris, Madrid, Barcelona, Amesterdão, Atenas, Bruxelas. Conheço sempre muito bem os aeroportos e os locais onde vou trabalhar, mas as cidades em si, demasiado pouco, chegando mesmo ao limite do ridículo.

Falando do meu estado de saúde, é caso para dizer que o excesso de ar condicionado me está a matar! De tal forma que ontem, para além de jorrar um chorrilho de disparates e calinadas em portuñol, o meu nariz resolveu marcar presença e brindou-me com um contínuo fluxo de sangue. E foi este o ponto alto da estadia por aqui.

Agora sou eu que tenho o Dejá Vu

As aventuras com as máquinas de café continuam a preencher os meus dias. Tenho mais uma alcunha para juntar ao rol: Peligrosa. Sempre que me aproximo de uma máquina de café, ou deixa imediatamente de funcionar, ou sai só água sem café, ou o açúcar acaba ou as moedas não entram. A juntar à história do carro, imaginem como estou a servir de gozo para esta gente. Mas pronto. Assim pelo menos divertem-se e tentam manter-se despertos. Temos que ser úteis à comunidade. Ah! Desde que mudei para o chá, não tenho tido mais problemas. Só diuréticos.

Competição al Pasillo

Estamos todos instalados no mesmo piso. Vaguear por pelo corredor (pasillo) durante a noite pode ser uma experiência encantadora pois as paredes parecem papel. A competição directa é entre o 427 e o 431. Bulgária e Portugal lutam incessantemente pelo primeiro lugar no pódio do ronco mais forte. No 429 temos Antigua e Barbuda, hiperactiva, hipergestual, a passar a ferro e a pentear-se desde as 5 da manhã. No 426 temos kizomba. Para que fique bem claro, eu estou no 428!

A noite de amanhã promete. Vamos jantar a Barcelona. Mais uma tentativa de pseudo-crónicas para a sobremesa.

sexta-feira, 17 de novembro de 2006

A Consagrada Família

Hoje foi dia de Santa Gertrudes. A sério. Mas para quem conhece a Sagrada Família em questão, sabe que Gertrudes rumou para Barcelona, de santidade partilhada com outros dois dignos representantes dos Céus. Para quem desconhece o enredo familiar, Maria Gertrudes, de seu diminutivo Tucha, António Neves, seu marido, estão confortavelmente a dormir num quarto do outro lado do corredor, enquanto eu, a filha, a verdadeira santa, faz por ter o trabalho todo acabado antes que a Internet decida que já passa da hora de expediente. Fiz um upgrade. Da Internet Vai-Vem Mexicana passámos à Internet Cinderela. À meia-noite em ponto tem que recolher aos aposentos senão corre o risco de se transformar em Código Morse.


Ela japonês, não ela?...

Mas desta vez a crónica da viagem começa bem antes de partir. Para a despedida, a junta da cabeça do motor, ou a cabeça da junta do motor (nunca acerto), teve morte súbita em plena auto-estrada de Cascais. Sem hipótese de reanimação, o que significa que os planos comemorativos do primeiro cheque ao serviço do sistema desportivo português foram por água abaixo. Neste caso, por molho de soja com wasabi abaixo pois a ideia era entupir-me de sushi até o japonês me expulsal. Há medida que o tempo passa, há verdades que se tornam mais evidentes. Todos temos um destino, uma missão, certo? Pois é. A minha deve ser aperfeiçoar a capacidade magnética para acontecimentos bizarros, imprevistos e absurdos. E quero acreditar com muita força que afinal tudo isto tem um propósito. Ainda não descobri qual é, mas pelo menos até lá tenho a garantia que não tenho um dia igual ao outro.

Nem um joelho igual ao outro. O direito foi violentamente agredido em pleno voo pelo carrinho do chá. Mais um verdade que se revela evidente com o passar do tempo e o acumular de viagens: nunca dormir profundamente com o joelho virado para fora num corredor de um avião de uma companhia aérea de baixo custo. O que não nos cobram no bilhete, pagamos em tratamentos osteopáticos.

Café Silvester

Depois de mais uma viagem típica, aterrámos e pensei. Barcelona. Picasso. Miró. Sagrada Família. Ramblas. Salsa. Rapidamente as minhas ilusões caíram por terra. Estamos em retiro espiritual fora de Barcelona, cujo único acesso ao centro da dita é um comboio que tem por última viagem de regresso as vergonhosas 23 horas… assim não há condições!!!

Assim que chegámos fomos tentar afogar as mágoas em café. É e será sempre a primeira inspecção obrigatória. Pedi três, curtos, expressos. A senhora que até então estava de costas, vira-se e é então que tenho a revelação: Silvester Stalone ou tem uma irmã ou fugiu para Barcelona onde a operação de mudança de sexo não correu bem e neste momento tenta não mergulhar na depressão, servindo cafés, iogurtes e sandes de presunto, a atletas adolescentes. Garanto que até estava bem disposto e parece encarar a situação com alguma naturalidade.

Por falar em hormonas, acabei de descobrir um escritor que parece prometer encher mais umas quantas prateleiras lá em casa: Júlio Cortázar, argentino. Sofria de uma doença (?????!!!) que manteve o seu aspecto jovem até morrer com 80 e tal anos. Ai que chatice. Bolas. Coitado. Que maçada. Parece que as suas alunas, conduzidas pelo engano da pele, se apaixonavam perdidamente. Francamente. Que indecência. Onde é que já se viu uma coisa destas?? Mulheres jovens ou menos jovens a apaixonarem-se por um homem de 80 anos sem ser pelo seu dinheiro, mas sim pela sua aparência e aparente lucidez literária?? Que horror.

Os contos parecem-me suficientemente alucinantes para me divertirem. Amanhã começam as aulas. Vamos ver o que nos reservam os próximos dias. Tenho recebido reclamações quanto à distribuição e divulgação das crónicas anteriores. La esquina de la super chica (Parte I e II) e Carruagem 23 - O Expresso da Pampilhosa. Quem não recebeu, faz favor de por o braço no ar.

A Consagrada Família

Hoje foi dia de Santa Gertrudes. A sério. Mas para quem conhece a Sagrada Família em questão, sabe que Gertrudes rumou para Barcelona, de santidade partilhada com outros dois dignos representantes dos Céus. Para quem desconhece o enredo familiar, Maria Gertrudes, de seu diminutivo Tucha, António Neves, seu marido, estão confortavelmente a dormir num quarto do outro lado do corredor, enquanto eu, a filha, a verdadeira santa, faz por ter o trabalho todo acabado antes que a Internet decida que já passa da hora de expediente. Fiz um upgrade. Da Internet Vai-Vem Mexicana passámos à Internet Cinderela. À meia-noite em ponto tem que recolher aos aposentos senão corre o risco de se transformar em Código Morse.


Ela japonês, não ela?...

Mas desta vez a crónica da viagem começa bem antes de partir. Para a despedida, a junta da cabeça do motor, ou a cabeça da junta do motor (nunca acerto), teve morte súbita em plena auto-estrada de Cascais. Sem hipótese de reanimação, o que significa que os planos comemorativos do primeiro cheque ao serviço do sistema desportivo português foram por água abaixo. Neste caso, por molho de soja com wasabi abaixo pois a ideia era entupir-me de sushi até o japonês me expulsal. Há medida que o tempo passa, há verdades que se tornam mais evidentes. Todos temos um destino, uma missão, certo? Pois é. A minha deve ser aperfeiçoar a capacidade magnética para acontecimentos bizarros, imprevistos e absurdos. E quero acreditar com muita força que afinal tudo isto tem um propósito. Ainda não descobri qual é, mas pelo menos até lá tenho a garantia que não tenho um dia igual ao outro.

Nem um joelho igual ao outro. O direito foi violentamente agredido em pleno voo pelo carrinho do chá. Mais um verdade que se revela evidente com o passar do tempo e o acumular de viagens: nunca dormir profundamente com o joelho virado para fora num corredor de um avião de uma companhia aérea de baixo custo. O que não nos cobram no bilhete, pagamos em tratamentos osteopáticos.

Café Silvester

Depois de mais uma viagem típica, aterrámos e pensei. Barcelona. Picasso. Miró. Sagrada Família. Ramblas. Salsa. Rapidamente as minhas ilusões caíram por terra. Estamos em retiro espiritual fora de Barcelona, cujo único acesso ao centro da dita é um comboio que tem por última viagem de regresso as vergonhosas 23 horas… assim não há condições!!!

Assim que chegámos fomos tentar afogar as mágoas em café. É e será sempre a primeira inspecção obrigatória. Pedi três, curtos, expressos. A senhora que até então estava de costas, vira-se e é então que tenho a revelação: Silvester Stalone ou tem uma irmã ou fugiu para Barcelona onde a operação de mudança de sexo não correu bem e neste momento tenta não mergulhar na depressão, servindo cafés, iogurtes e sandes de presunto, a atletas adolescentes. Garanto que até estava bem disposto e parece encarar a situação com alguma naturalidade.

Por falar em hormonas, acabei de descobrir um escritor que parece prometer encher mais umas quantas prateleiras lá em casa: Júlio Cortázar, argentino. Sofria de uma doença (?????!!!) que manteve o seu aspecto jovem até morrer com 80 e tal anos. Ai que chatice. Bolas. Coitado. Que maçada. Parece que as suas alunas, conduzidas pelo engano da pele, se apaixonavam perdidamente. Francamente. Que indecência. Onde é que já se viu uma coisa destas?? Mulheres jovens ou menos jovens a apaixonarem-se por um homem de 80 anos sem ser pelo seu dinheiro, mas sim pela sua aparência e aparente lucidez literária?? Que horror.

Os contos parecem-me suficientemente alucinantes para me divertirem. Amanhã começam as aulas. Vamos ver o que nos reservam os próximos dias. Tenho recebido reclamações quanto à distribuição e divulgação das crónicas anteriores. La esquina de la super chica (Parte I e II) e Carruagem 23 - O Expresso da Pampilhosa. Quem não recebeu, faz favor de por o braço no ar.