sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Meditação a metro

Hoje fiz anos. Levantei-me tarde, corri para as unhas, corri para o almoço, corri para ir distribuir as prendas, corri para o jantar e corri para chegar a casa, que estava um frio de arrasar com os ossos. Resultado no fim do jogo: Aniversário 1 - Meditação 0. No percurso para o almoço, de metro para os Anjos, decidi experimentar na carruagem, já que iriam ser os dez minutos que poderia ter disponíveis. Tentei não ficar com uma cara muito estranha, concentrei-me na respiração, mas sempre que inspirava só conseguia pensar que sou capaz de distinguir uma boa variedade de nacionalidades pelo cheiro. Deixa de parvoíce e volta lá à respiração, dizia-me a consciência. Mal a contagem chegava por volta do 4, já eu pensava se os portugueses cheiram ou não a cozido à portuguesa. Os dez minutos de hoje foram mais gastronómicos que espirituais. Pelo menos não me deram sono, só fome :)



quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Ómmm pra mim!


A tentativa de uma viagem ao interior
Não sei bem nem o que escrever. Desde há algum tempo, quatro, cinco anos, que a vontade de meditar têm vindo a crescer. Já frequentei cursos, já li livros, artigos, blogs, estudos, notícias, casos,… De vez em quando tento, mas com muito pouco resultado. Faço tudo como mandam mas de facto o torpor apodera-se muito rapidamente do meu espírito e é tudo o que é preciso para entrar em sono profundo.

Sempre pensei que tinha que levar a meditação mais a sério e até hoje havia um ponto que eu não cumpria. O do espaço próprio, dedicado à meditação, isolado quanto possível, com o tempo contado por alarme. Conselhos unânimes em todos os livros e cursos, dados aos praticantes iniciados, para que se construa uma rotina. Pelos vistos, é mais do que um ponto que eu não cumpria.

Durante todo este tempo sempre tive também vontade de participar num daqueles retiros espirituais onde não se fala, não se mexe, não nada. Come-se (pouco), dorme-se (pouco) e medita-se (muito mesmo). Aliás, só se medita. As interrupções são para as actividades de vida diária e nada mais. Vai haver um em Fevereiro e pensei, se queres participar tens que te aplicar primeiro. Tens que conseguir passar pelo menos uma hora por dia a meditar. Para que depois consigas ficar dez dias completos. Medo.

Hoje arranjei então o espaço e o alarme. Para que nada me distraísse, fechei a sala, regulei a temperatura ambiente, certifiquei-me que naquele tempo não seria incomodada. De manhã, e o tempo de 10 minutos, para começar, tal como recomendam. Sentei-me na posição correta sem grandes dificuldades e decidi que o objeto da meditação seria a respiração. 

Começo a concentração também sem grandes dificuldades e penso, assim sim, de facto seguindo o livro isto funciona. Ao fim de muito pouco tempo, fui totalmente e novamente invadida por um sono que não aguento. Olho ligeiramente para cima, a fim de despertar o raio do espírito, tal como também recomendam. Nada. Respira, respira, respira. Olho para baixo, para os lados, olho para cima, nada. Não é fácil manter-me acordada. Penso, se calhar é por contar a respiração, como quem conta carneiros, decido mudar o objeto e foco-me num grande vaso verde que tenho à frente. Ao fim de ainda menos tempo, sinto o sono por todo o corpo e imediatamente penso, volta à respiração! Nada. Volto à respiração e já quase que durmo outra vez. O alarme toca. Já? Dez minutos e só me consegui concentrar em manter-me acordada….

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

A volta à turquia em menos de 8 dias


Agora sim, estamos em Istambul, depois de algumas horas de viagem com a expectativa de chegar a uma cidade cheia de cúpulas, cheiros e mistérios. Mistério foi mesmo o de descobrir o caminho para lá e depois onde é que tinham enfiado o papel higiénico e a roupa de cama no apartamento. Cheiros diferentes eram os que saiam das botas de cada um. A casa estava por terminar, ainda que já tivesse televisão e chinelos à porta, mas apenas com um canal de música turca. Claro que o aparelho rapidamente foi desligado e substituído na tomada pelo frigorífico e pelos carregamentos de laptops, ipods, telemóveis e afins, até que também eu perdi a bateria.

Os turcos parecem os gregos. Ou os gregos os turcos. Nas azeitonas, no iogurte, nas avenidas, na casmurrice de não facilitar a passagem. As avenidas grandes cruzam-se com viadutos labirínticos, e por duas vezes seguidas o hotel sai do ponto onde devia estar mapa.

Reza uma das muitas lendas que o café teve origem na Turquia, mas eu acho que eles são mais os reis do reclame, da carteira e do relógio pirata. Anunciam que vão anunciar, cada produto que têm em cada cartaz diferente. Estou convencida que anunciam que têm gato, rato, mulher e sogra, quantas vezes ajoelham para rezar e o que é que vão comer ao pequeno-almoço. No meio de tanta placa e cartaz, esquecem-se só de dizer para onde é o caminho. Nada que 2 gps e 3 mapas não ajudem a baralhar. Daí que cada vez que se quer entrar ou sair das cidades são círculos e círculos que se fazem à procura das placas certas.

Pode  ainda dizer-se que os turcos estão ao meio. Meio na Europa e meio na Ásia, porta do islão para o ocidente católico, meio para o ortodoxo, meia lira turca, euro inteiro. Não sei, mas ao meio da estrada vão de certeza. Não são de facto tão maus como os taxistas gregos ou tunisinos,  mas são muitas as vezes na estrada que os vejo bem de frente, em contra mão, sem qualquer tipo de preocupação. E devem ter três mãos. Porque numa levam o cigarro, na outra o telemóvel e não sei qual é que sobra para agarrar o volante.
Pisca não existe, facilitar a passagem muito menos. O que me deixa mais triste é não me ligarem nenhuma. Impávidos e serenos, não dizem adeus, não param, não acenam. São indiferentes, estes turcos.  Demasiado equilibrados. Demasiado lavadinhos e arrumadinhos. 

Istambul é grande e não me cheira a nada a não ser à maçaroca que trinquei e às romãs espremidas dentro dum copo que custou o dobro do preço.  No bazar, finalmente um turco tenta impingir-me  umas especiarias e uns doces, e assim sim, já sou turista. Mais umas voltas dadas, incluindo a Haya Sofia, uma das 7 maravilhas do mundo, e eu gostei foi dos murais pintados com as lendas da Turquia, num beco à saída do antigo hipódromo, do qual o pouco que resta, não vimos. Um das lendas fala sobre Hezarfen, um rapaz que em 1600 e qq coisa teve a audácia de se atirar de uma das torres mais altas, para tentar voar com umas asas improvisadas. A lenda não conta o que lhe aconteceu a seguir, mas aposto que foi apanhado de frente por um camionista.

Aliás, nesta terra existe mais camião e camionista do que mesquitas e minaretes juntos. Mas os camionistas são simpáticos e um pouco mais conversadores. É com facilidade que com duas ou três palavras em pseudo turco, lhes arrancamos um sorriso e algumas histórias. Sentei-me  com três, bebi café e conversei durante uns 20 minutos, já a caminho de Ankara. Não percebi ponta de nada do que me disseram e ainda menos do que eu disse, mas o que importa é que fiz amigos.