sexta-feira, 17 de novembro de 2006

A Consagrada Família

Hoje foi dia de Santa Gertrudes. A sério. Mas para quem conhece a Sagrada Família em questão, sabe que Gertrudes rumou para Barcelona, de santidade partilhada com outros dois dignos representantes dos Céus. Para quem desconhece o enredo familiar, Maria Gertrudes, de seu diminutivo Tucha, António Neves, seu marido, estão confortavelmente a dormir num quarto do outro lado do corredor, enquanto eu, a filha, a verdadeira santa, faz por ter o trabalho todo acabado antes que a Internet decida que já passa da hora de expediente. Fiz um upgrade. Da Internet Vai-Vem Mexicana passámos à Internet Cinderela. À meia-noite em ponto tem que recolher aos aposentos senão corre o risco de se transformar em Código Morse.


Ela japonês, não ela?...

Mas desta vez a crónica da viagem começa bem antes de partir. Para a despedida, a junta da cabeça do motor, ou a cabeça da junta do motor (nunca acerto), teve morte súbita em plena auto-estrada de Cascais. Sem hipótese de reanimação, o que significa que os planos comemorativos do primeiro cheque ao serviço do sistema desportivo português foram por água abaixo. Neste caso, por molho de soja com wasabi abaixo pois a ideia era entupir-me de sushi até o japonês me expulsal. Há medida que o tempo passa, há verdades que se tornam mais evidentes. Todos temos um destino, uma missão, certo? Pois é. A minha deve ser aperfeiçoar a capacidade magnética para acontecimentos bizarros, imprevistos e absurdos. E quero acreditar com muita força que afinal tudo isto tem um propósito. Ainda não descobri qual é, mas pelo menos até lá tenho a garantia que não tenho um dia igual ao outro.

Nem um joelho igual ao outro. O direito foi violentamente agredido em pleno voo pelo carrinho do chá. Mais um verdade que se revela evidente com o passar do tempo e o acumular de viagens: nunca dormir profundamente com o joelho virado para fora num corredor de um avião de uma companhia aérea de baixo custo. O que não nos cobram no bilhete, pagamos em tratamentos osteopáticos.

Café Silvester

Depois de mais uma viagem típica, aterrámos e pensei. Barcelona. Picasso. Miró. Sagrada Família. Ramblas. Salsa. Rapidamente as minhas ilusões caíram por terra. Estamos em retiro espiritual fora de Barcelona, cujo único acesso ao centro da dita é um comboio que tem por última viagem de regresso as vergonhosas 23 horas… assim não há condições!!!

Assim que chegámos fomos tentar afogar as mágoas em café. É e será sempre a primeira inspecção obrigatória. Pedi três, curtos, expressos. A senhora que até então estava de costas, vira-se e é então que tenho a revelação: Silvester Stalone ou tem uma irmã ou fugiu para Barcelona onde a operação de mudança de sexo não correu bem e neste momento tenta não mergulhar na depressão, servindo cafés, iogurtes e sandes de presunto, a atletas adolescentes. Garanto que até estava bem disposto e parece encarar a situação com alguma naturalidade.

Por falar em hormonas, acabei de descobrir um escritor que parece prometer encher mais umas quantas prateleiras lá em casa: Júlio Cortázar, argentino. Sofria de uma doença (?????!!!) que manteve o seu aspecto jovem até morrer com 80 e tal anos. Ai que chatice. Bolas. Coitado. Que maçada. Parece que as suas alunas, conduzidas pelo engano da pele, se apaixonavam perdidamente. Francamente. Que indecência. Onde é que já se viu uma coisa destas?? Mulheres jovens ou menos jovens a apaixonarem-se por um homem de 80 anos sem ser pelo seu dinheiro, mas sim pela sua aparência e aparente lucidez literária?? Que horror.

Os contos parecem-me suficientemente alucinantes para me divertirem. Amanhã começam as aulas. Vamos ver o que nos reservam os próximos dias. Tenho recebido reclamações quanto à distribuição e divulgação das crónicas anteriores. La esquina de la super chica (Parte I e II) e Carruagem 23 - O Expresso da Pampilhosa. Quem não recebeu, faz favor de por o braço no ar.

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