Agora sim, estamos em Istambul, depois de algumas horas de viagem com a expectativa de chegar a uma cidade cheia de cúpulas, cheiros e mistérios. Mistério foi mesmo o de descobrir o caminho para lá e depois onde é que tinham enfiado o papel higiénico e a roupa de cama no apartamento. Cheiros diferentes eram os que saiam das botas de cada um. A casa estava por terminar, ainda que já tivesse televisão e chinelos à porta, mas apenas com um canal de música turca. Claro que o aparelho rapidamente foi desligado e substituído na tomada pelo frigorífico e pelos carregamentos de laptops, ipods, telemóveis e afins, até que também eu perdi a bateria.
Os turcos parecem os gregos. Ou os gregos os turcos. Nas azeitonas, no iogurte, nas avenidas, na casmurrice de não facilitar a passagem. As avenidas grandes cruzam-se com viadutos labirínticos, e por duas vezes seguidas o hotel sai do ponto onde devia estar mapa.
Reza uma das muitas lendas que o café teve origem na Turquia, mas eu acho que eles são mais os reis do reclame, da carteira e do relógio pirata. Anunciam que vão anunciar, cada produto que têm em cada cartaz diferente. Estou convencida que anunciam que têm gato, rato, mulher e sogra, quantas vezes ajoelham para rezar e o que é que vão comer ao pequeno-almoço. No meio de tanta placa e cartaz, esquecem-se só de dizer para onde é o caminho. Nada que 2 gps e 3 mapas não ajudem a baralhar. Daí que cada vez que se quer entrar ou sair das cidades são círculos e círculos que se fazem à procura das placas certas.
Pode ainda dizer-se que os turcos estão ao meio. Meio na Europa e meio na Ásia, porta do islão para o ocidente católico, meio para o ortodoxo, meia lira turca, euro inteiro. Não sei, mas ao meio da estrada vão de certeza. Não são de facto tão maus como os taxistas gregos ou tunisinos, mas são muitas as vezes na estrada que os vejo bem de frente, em contra mão, sem qualquer tipo de preocupação. E devem ter três mãos. Porque numa levam o cigarro, na outra o telemóvel e não sei qual é que sobra para agarrar o volante.
Pisca não existe, facilitar a passagem muito menos. O que me deixa mais triste é não me ligarem nenhuma. Impávidos e serenos, não dizem adeus, não param, não acenam. São indiferentes, estes turcos. Demasiado equilibrados. Demasiado lavadinhos e arrumadinhos.
Istambul é grande e não me cheira a nada a não ser à maçaroca que trinquei e às romãs espremidas dentro dum copo que custou o dobro do preço. No bazar, finalmente um turco tenta impingir-me umas especiarias e uns doces, e assim sim, já sou turista. Mais umas voltas dadas, incluindo a Haya Sofia, uma das 7 maravilhas do mundo, e eu gostei foi dos murais pintados com as lendas da Turquia, num beco à saída do antigo hipódromo, do qual o pouco que resta, não vimos. Um das lendas fala sobre Hezarfen, um rapaz que em 1600 e qq coisa teve a audácia de se atirar de uma das torres mais altas, para tentar voar com umas asas improvisadas. A lenda não conta o que lhe aconteceu a seguir, mas aposto que foi apanhado de frente por um camionista.
Aliás, nesta terra existe mais camião e camionista do que mesquitas e minaretes juntos. Mas os camionistas são simpáticos e um pouco mais conversadores. É com facilidade que com duas ou três palavras em pseudo turco, lhes arrancamos um sorriso e algumas histórias. Sentei-me com três, bebi café e conversei durante uns 20 minutos, já a caminho de Ankara. Não percebi ponta de nada do que me disseram e ainda menos do que eu disse, mas o que importa é que fiz amigos.