quinta-feira, 3 de julho de 2008

Zé Miguel no Reino da Bavária

Ainda não sai do hotel mas adoro Munique. Pacotes de gomas na almofada à chegada, pessoas nuas nas fontes e debaixo das pontes, potes de gomas no centro de imprensa. A parte de estar numa cidade conhecida pelos inúmeros jardins de cerveja não interessa nada já que vou falhar tudo o que é festa, festival ou outras animações. Seja como for, quando nos fazemos passar por jornalistas e prometemos entrevistas ao recepcionista do hotel, a cerveja é à borla. Preta, fresca e de meio litro.

Mas interessa sim apresentar-vos o Zé Miguel, ex-atleta de alta competição, jardineiro de profissão, deficiente mental. Não lhe estou a chamar nomes, tem de facto algumas incapacidades intelectuais. Está nestes campeonatos como assistente do treinador da equipa adaptada, mas vou adoptá-lo para cada deslocação que fizer. Carrega-me o computador, monta e desmonta os barcos, dá de comer aos outros, esforça-se por aprender as primeiras letras de cada palavra em inglês. Diz ele que “como tudo na vida, o que interessa é a primeira parte. Depois vai tudo dar ao mesmo, é só seguir em frente”.

Filósofo, preocupado e meticuloso. Ao ponto de durante toda a viagem, mas mesmo toda a viagem, me vigiar o sono e não me deixar por um instante que fosse, deixar cair o queixo um mísero milímetro. Juro que nunca lhe contei nada das minhas patologias crónicas e garanto que não paguei pelo serviço que prestou aos outros passageiros.

Sádicas reflexões e pornografia animal

Quem costuma andar de avião sabe que é hábito bater palmas aquando de aterragens mais ou menos turbulentas. Será que os brasileiros em Congonhas, uma vez que aquilo tudo só explodiu depois de estar no chão, também bateram palmas?

Este singelo comentário (que não é meu!) e a anedota da caracoleta (que não é para aqui!) marcaram definitivamente o ponto de viragem nas conversas no bar do hotel. Sadismo à desgarrada, piadas pouco próprias ao despique e à custa de quem passa. A cerveja, essa, continua por conta da casa. Mais uma semana sem fazer dieta. E mais uns quantos anos sem tocar em caracóis e em afins viscosos e escorregadios.

Mais um deficiente a acrescentar à lista

No primeiro dia adoptei o Zé Miguel, deficiente mental. Na primeira noite um mosquito, deficiente visual. O meu mosquito de estimação, que há duas noites não me deixa dormir, só poder ser amblíope. Com tanta remadora boa que para aí anda, o tipo não me larga, zumbe-me aos ouvidos a noite toda e em cada oportunidade pica-me sem dó nem piedade. O problema é que aqui os edredões são como os alemães. Brancos, compridos e estreitos. Como sou inversamente proporcional às medidas da dita cobertura, fico com um problema ou melhor, fico sempre com alguma coisa de fora a servir de manjar ao raio do mosquito.

Bons prenúncios clínicos

Hoje consegui chamar fisioterapista ao fisioterapeuta. Logo no primeiro dia de contacto, o psicólogo da Selecção aconselhou-me a consultar um colega, e com alguma rapidez. Fiz o médico estar no aeroporto às 4 da manhã para vir para cá. Tenho a impressão que isto nos próximos dias vai animar. Neste departamento médico, pelos menos também já tenho aspirinas à borla.

Sr. Michelin, isso é se nós não quisermos!

Pág. 137 – Título: Mulheres que viajam sozinhas
Recomendação do Guia Michelin para Munique: “Peça um quarto perto do elevador do hotel e não deixe estranhos entrar no seu quarto”. Já vai tarde. Não conhecia o mosquito de lado nenhum.

Munique 1972 - Os israelitas na altura não comiam tanto

Estou a meio da terceira noite e o Ludwig não desiste. Já que estou tão familiarizada com a criatura voadora, resolvi dar-lhe um nome. Um que fosse famoso e nobre por estas terras e ao qual se deve a Oktoberfest.

Por falar em momentos cruciais da história, o atentado terrorista em Munique tem a sua efeméride agora a 5 de Setembro. A data está próxima mas não tanto como a equipa israelita. Porta do lado. Se os rapazinhos na altura comessem tanto como os primos deles hoje o fazem, se calhar teriam conseguido reunir forças para mudar o final da história.

Quero ser uma Weisswurst

Ainda segundo o guia dos pneus, antigamente a Weisswurst era tomada como um segundo pequeno-almoço. Como se estragavam facilmente, estas salsichas eram mantidas em água quente até ao meio-dia.

Boa Noite, Ludwig

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